Um relatório divulgado pela Comissão de Proteção à Criança do Vaticano nesta quinta-feira critica a atuação de líderes católicos de alto escalão, apontando lentidão na assistência às vítimas de abuso sexual e na implementação de medidas de proteção em escala global. A comissão, criada em 2014 pelo Papa Francisco, ressalta a falta de informações fornecidas às vítimas sobre o andamento de suas denúncias, assim como a eventual punição de bispos negligentes.
O documento de 103 páginas, considerado o mais extenso produzido pela comissão até o momento, avalia os esforços de proteção da Igreja em 22 países e em um departamento do Vaticano: o Dicastério para a Evangelização, responsável por supervisionar as operações da Igreja em nações em desenvolvimento. O relatório aponta que este dicastério conta com apenas um funcionário dedicado a questões de proteção.
A comissão critica a falta de clareza na divisão de responsabilidades entre os departamentos do Vaticano em casos de abuso, o que pode gerar confusão e atrasos nas investigações. Segundo o relatório, em muitos casos, as vítimas relatam respostas insatisfatórias da Igreja, como “acordos vazios” e “gestos performativos”, além da “recusa persistente de se envolver com as vítimas de boa fé”.
O relatório destaca a Itália, um tradicional reduto católico, como um país que tem demorado a lidar com o abuso por parte do clero. A comissão critica a falta de colaboração dos bispos italianos, informando que apenas 81 das 226 dioceses católicas do país responderam a um questionário sobre práticas de proteção. Em contrapartida, a Coreia do Sul apresentou 100% de participação.
O relatório também aborda a falta de transparência do Vaticano sobre as razões para a remoção de bispos envolvidos em casos de abuso ou acobertamento. A Igreja raramente divulga os motivos da remoção de um bispo, mesmo em casos de abuso, geralmente informando apenas que o Papa aceitou a renúncia. A comissão enfatiza a importância de comunicar publicamente os motivos da renúncia ou remoção, quando a decisão estiver relacionada a casos de abuso ou negligência, ressaltando que a falta de responsabilidade dos líderes da Igreja é uma questão frequentemente levantada pelas vítimas.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br
