Centenas de líderes extrativistas de diversos biomas brasileiros marcharam pelas ruas de Belém, na tarde da última quinta-feira, entoando o lema “a morte da floresta é o fim da nossa vida”. O ato visava defender seus direitos territoriais e destacar o papel crucial das reservas de uso sustentável no equilíbrio ecológico e na mitigação das mudanças climáticas.
O “Porongaço dos Povos da Floresta” reuniu seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, pescadores artesanais, quebradeiras de coco e outras comunidades tradicionais. A caminhada iluminou a capital paraense com a chama das porongas, lamparinas tradicionalmente usadas por seringueiros e que se tornaram um símbolo da luta histórica do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), fundado em 1985, sob a liderança de Chico Mendes.
O percurso da marcha foi organizado paralelamente às negociações da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que está ocorrendo em Belém. Letícia Moraes, vice-presidente do CNS, enfatizou que as populações extrativistas compreendem o território como extensão de seus corpos, e que a saúde da floresta está intrinsecamente ligada ao bem-estar dessas comunidades.
Dados do CNS indicam que as reservas e projetos de assentamento agroextrativistas protegem mais de 42 milhões de hectares de florestas e rios, representando 5% do território nacional. Estima-se que essas áreas armazenem aproximadamente 25,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, o que corresponde a cerca de 11 anos das emissões totais do Brasil.
Na COP30, as comunidades extrativistas brasileiras estão sendo representadas por Joaquim Belo, que busca garantir que os serviços ecossistêmicos prestados por essas populações sejam incluídos como metas de mitigação das mudanças climáticas.
Ao final da marcha, um documento do CNS foi entregue à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. A carta elenca uma série de demandas, incluindo o reconhecimento formal das reservas extrativistas e demais territórios tradicionais na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira e nos tratados climáticos, em virtude de sua contribuição para a redução do desmatamento e a conservação de estoques de carbono.
Marina Silva, em seu discurso, lembrou sua trajetória como seringueira ao lado de Chico Mendes e destacou o papel de guardiões da floresta dessas comunidades, ressaltando que seu modo de vida protege a floresta, a biodiversidade e sequestra carbono.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br
